Finalmente, estamos de férias! A viagem para o Egipto correu lindamente, sem problemas. Chegámos ao Cairo e fomos de imediato visitar o Museu Egípcio. Hoje de manhã partimos para o nosso tão desejado cruzeiro pelo Nilo, e estamos a fazer a nossa primeira paragem no deserto, para visitar o Vale dos Reis, onde fica o famoso túmulo de Tutanhkhamun. A Yara está super entusiasmada com esta viagem - este cruzeiro tem sido um sonho nosso de longa data, e agora estamos a realizá-lo.
Antes de iniciar a visita ao Vale dos Reis com o resto do grupo, temos ainda cerca de uma hora para passear pelo mercado local e conhecermos a zona. Eu preciso de tabaco para o meu cachimbo, e começamos a passear pelas pequenas ruelas de tendas. Ainda antes de achar o tabaco, a Yara detectou uma tenda com túnicas e acessórios que ela considera lindos, de perder a cabeça. Para não perder tempo, eu continuo em frente e combino encontrar-me com ela nessa mesma tenda das túnicas após comprar o tabaco, visto ela estar decidida a ficar por aí.
Passaram 20 minutos, e agora que volto com não só tabaco mas um fenomenal cachimbo egípcio, decorado com uma estátua mínuscula de Anúbis, a Yara não está na tenda combinada. Pergunto por ela à senhora da tenda, que mal compreende Inglês ou qualquer outra língua, mas não consigo nada de concreto, é como se ela nunca lá tivesse estado...
Yara sempre foi um free spirit, uma mistura de novo com antigo, de east e west, não só por dentro mas por fora também - afinal, ter mãe egípcia e pai luso-italiano só podia produzir uma alma multicultural e multifacetada.
Sem ela, eu estou limitado, condicionado, pois ela estava a fazer a ponte entre mim e a população local, ela fala árabe e sabe exactamente como lidar com as pessoas. Eu sou o oposto, nunca fui muito dotado nessa área, e com a idade que tenho não é agora que vou mudar...
Sinto o corpo a dar sinais da tensão alta, os meus comprimidos estão na mala da Yara, e começo a preocupar-me com ela agora. Tenho de fazer algo, o tempo está a passar e daqui a pouco o grupo que espera por nós na praça central dará início à excursão.
Procuro o telemóvel para ligar para ela - afinal, é a forma mais rápida de descobrir onde ela está. Assim que ponho a mão no bolso, lembro-me que deixei o telemóvel no camarote do cruzeiro, por falta de bateria... Sinto o coração a bater mais rápido, visão ligeiramente turva, um tremor nas mãos; maldita a hora em que deixei o telemóvel!
Respiro fundo para me acalmar, de certeza que não deve ser nada, não vale a penastressar, ela deve estar apenas a visitar outras tendas, comprar alguns mimos. Por acaso, o meu olhar encontra o da senhora da tenda das túnicas, que aparentemente esteve a olhar para mim desde que falei com ela, e o seu olhar desvia-se; estrago a cara, dando a entender o meu desagrado para com ela, e dou uma volta sobre mim próprio, perscrutando todas as direcções.
É nesta altura apenas que me apercebo que sou o único turista ali, rodeado de locais, e todos com o olhar fixo sobre mim. É nesta altura apenas que me apercebo do silêncio que me rodeia. Quando o meu olhar cruza com o deles, desviam-no e disfarçam. A algumas tendas de distância, em direcção à praça central, vislumbro um rapazinho cuja cara não me é estranha, o seu olhar indeciso sobre mim e a boca a abrir, como se preparasse para me dizer algo - algo que não conseguiu porque, naquele momento, foi bruscamente puxado para trás das sacas pelo vendedor.
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